Bússola do Muito Mar

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sobre uma coisa chamada Mãe


A minha mãe tem setenta anos. A pele, os olhos, a respiração e os gestos estão cheios do cansaço que o muito tempo traz ao corpo e à alma das pessoas. Eu tenho um retrato dela muito outro do que agora ela é: uma rapariga com vinte e poucas primaveras, de cachecol esvoaçante, com um sorriso maroto, a preto e branco. Ao pé da moça daquela fotografia, eu hoje sou um velho. Mas lembro-me muito bem de andar de mão dada com a minha mãe e de ela ser a beleza imorredoira, a cores, daquele retrato.
A minha mãe já viveu tanto mundo. Já chorou um Mondego de dores. Já suspirou ciclones. Já rezou uma Idade Média. Já foi Vasco da Gama, Neil Armstrong, praia do Restelo. Já foi o meu livro de lendas, o meu livro de poesia, o meu livro de cozinha, o meu livro de religião, o meu livro de História.
Gosto da minha mãe. E gosto que a minha mãe goste de mim. O melhor das minhas pobres conquistas, sabei, vejo-o num qualquer orgulho momentâneo dela em mim. Ainda hoje corro atrás de uma oportunidade de a fazer feliz, de a ver sorrir.
Queria que ela vivesse muitos anos.
A minha mãe deu-me ao mundo. Eu gostava de dar o mundo à minha mãe.

Ribeira de Pena, Janeiro, 2010
(escrito a pedido da Olívia Sofia).
Joaquim Jorge Carvalho

2 comentários:

Clara disse...

Hoje é o Dia da Mãe, por isso adorei ler o teu texto, Quim Jorge, pois também sou filha e sou mãe.

Os meus filhos ofereceram-me hoje um poema (retirado da net, em Português do Brasil...)que dizia:

"...Mãe não morre nunca,
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.".

Eu também gostava, como tu, de dar o mundo inteiro
à minha mãe!

Clara

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Estás como eu - dos dois lados (árvore e fruto).
É, de facto, obrigação de um(a) filho(a) dar o mundo à respectiva mãe!
Os teus filhos já o perceberam., claro...