Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Adeus, Professor Severo de Melo, Mestre

Ontem, pela tarde, o meu Amigo Daniel Abrunheiro enviou-me mensagem para o telemóvel a dar conta da morte do (nosso) professor Severo de Melo. Em 1976, este Senhor Professor era a garantia das mais interessantes aulas de História de que um aluno poderia beneficiar, na mítica Escola Preparatória Rainha Santa Isabel, à Pedrulha. Sopravam ainda os tempos gloriosos e puros da Liberdade trazida pelo 25 de Abril de 1974, eu era um miúdo esfomeado de conhecimento e de vida em geral, batia tudo certo. Ouvir o dr. Severo significava entrar no reino encantado da Cultura. Com ele ao leme da conversa, numa sala ou nos corredores da escola, tornava-se maravilhosamente familiar o contacto com datas históricas, pensadores, escritores, músicos, heróis. Entrava-se nas suas aulas com a esperança - jamais frustrada - da Novidade. À boleia do seu discurso e das suas provocações, aprendia-se a pensar.Ainda cheguei a ser seu colega, na mesma escola onde o conheci; e aí, apesar do seu convite (tácito ou expresso) a uma familiaridade mais distendida, jamais me consegui desligar do sentimento de admiração e de devoção que por ele não cessei de nutrir. Tive, felizmente, oportunidade de lhe transmitir esse enlevo e a gratidão concomitante. 
Não estive sempre de acordo com o que ele dizia (ou com o modo, nem sempre dado à bonomia, com que exprimia as suas convicções). Mas retirei sempre de cada contacto a noção de estar na presença de um homem íntegro, culto e sábio, que tornava mais ricos os dias dos seus contemporâneos.
A sua morte, aos 80 anos, no dia 5 de Novembro de 2018, é mais um pedaço da minha vida que cede à puta da Finitude. Nada de pasmar, pois estou na idade de coleccionar perdas e de ir preparando a minha própria saída de cena. Mas faço questão, a quase 300 quilómetros de Coimbra, cidade minha e, por adopção, do Professor Severo, de registar aqui a minha mágoa, a minha saudade e o meu eterno reconhecimento por este ser valioso e luminoso, tão lídimo intérprete do livre pensamento.
Adeus, querido Mestre!

Coimbra, 07 de Novembro de 2018.
Joaquim Jorge Carvalho

Sem comentários: