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Número de Ondas

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Árvores Tombadas, de Rui Conceição Silva: Romance com perfume dinisiano

 


Estou sempre a ler e, quando há, na secretária, vários títulos clamando a minha atenção, gosto de, tanto quanto possível, não me desviar dos livros já encetados. Às vezes, incumpro essa útil disciplina – por exemplo, quando deito os olhos aos primeiros versos de um livro de poesia ou à primeira página de um romance e me acontece o célebre enamoramento da literatura. 

Aconteceu-me com o romance Árvores tombadas, de Rui Conceição Silva, um autor da minha geração, que talvez não receba, como tantos, a atenção que a sua qualidade literária justificaria. 

Contada a várias vozes, a história fundamental do romance remete-nos para um mundo antigo, rural e marcadamente português, historicamente situado no Estado Novo, palco de uma vida geralmente dura (nomeadamente no que se refere ao povo mais humilde), com a omnipresença da pobreza, do desamparo, da fome e da repressão política e policial. Num lugar povoado de tipos populares, simples no pensar e no falar, mas profundamente carregados de humanidade, surge um elemento novo, cujo olhar sobre a terra servirá, aos leitores, de guia e de testemunho: na verdade, os olhos da jovem professora Estrela, que vem da “cidade grande” para aquele pedaço de “Portugal profundo”, serão daí em diante – em grande medida – os nossos olhos. E nossos também, naturalmente, os seus assombros, encantamentos, medos, choros ou prazeres.  

É muito difícil parar de ler uma história de que, logo às primeiras páginas, nos tornamos cúmplices, familiares, íntimos. A narração, embora não disfarce a dureza e a crueldade dos factos relatados (até no vernáculo-calão eminentemente coloquial que, de quando em vez, emerge das falas das personagens), traz consigo uma espécie de melancólica doçura, como se a leitura fosse concomitante às vidas ali convocadas -  mas, atenção, tudo isto muito longe da lágrima fácil ou sentimentalona. Há neste discurso narrativo, digamos assim, para além da construção pormenorizada de um microcosmos profundamente verosímil e, aqui e ali, brutal, a amável incorporação da ternura. 

Não por acaso, aconteceu-me sentir, no final da leitura, saindo da narrativa, um perfume familiar, reconhecível, grato: era, digo-o agora, o eco formoso de Júlio Dinis, cujas histórias desde sempre me encantaram. Pergunta: que segredo há nas histórias que nos prendem, fascinam, conquistam? 

[Durante anos, combatendo o preconceito, o menosprezo ou a indiferença da universidade perante Júlio Dinis, tentei perceber que poder encantatório era aquele emanando da sua escrita – e acabei, mais ou menos fatalmente, por dedicar um doutoramento ao estudo da sua obra, em particular aos seus romances e contos. Esse estudo culminou numa tese – mais tarde, publicada pela Ed. Caleidoscópio  intitulada Acção, Cenas e Personagens na Narrativa Dinisiana: As Pupilas do Senhor Escritor.] 

Em Árvores Tombadas, há esse poder, sim. É o tal perfume (que, à falta de melhor palavra, chamarei “dinisiano”), isto é, essa arte muito complicada de bem contar uma história. Lendo-a, parecer-nos-á talvez que, dada a fluência e leveza do discurso narrativo, não se tratará decerto de trabalho complexo por aí além; ora, a isto de tornar “fácil” o que é consabidamente “difícil”, meus amigos, chama-se talento. 

Árvores tombadas (Ed. Visgarolho, 2024) é um belíssimo romance, que agora celebro e recomendo.


Coimbra, 08 de Novembro de 2024. 
Joaquim Jorge Carvalho

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

MENINA VEZES QUARENTA

 


Há 40 anos, eu e a MP inaugurámos (para a nossa Menina) uma linha 24 para assuntos de saúde, uma linha de apoio psicológico, uma linha de orientação profissional, uma linha de assistência ambulatória, um centro de de dia, um centro de cuidados continuados, uma pousada e um serviço de acompanhamento geral e permanente. Valeu tudo a pena e tudo continua a funcionar 24 horas por dia, à base de tempo, atenção e amor.

Parabéns, Vânia - única filha única!


Coimbra, 02 de Setembro de 2024.

Joaquim Jorge Carvalho

terça-feira, 25 de junho de 2024

Parabéns (& obrigado)

 


És tão demasiadamente linda, linda
Tão linda, tão demasiadamente
Que não encontrei um modo ainda
De dizer quão linda és exactamente.

Tão doce permanece o meu enlevo
Tão luminosa és, ó minha flor -
Que em vez de dizer “Amo-te”, eu só escrevo
Obrigado, Pequininha, meu amor!


Ribeira de Pena, 25 de Junho de 2024.
Joaquim Jorge Carvalho

domingo, 5 de maio de 2024

MÃEZINHA




Como todas as Mães, ó minha Mãe
A senhora é perfeita, como sabe:
Leio nos seus olhos todo o bem
Que há na breve vida que nos cabe.

Ainda hoje a trato por Mãezinha
Como se fosse sempre pequenino.
Sabe-me bem, contudo, a palavrinha
E sou eternamente um seu menino.

Lembro-me de a Mãe, durante a lida
Na casa encantada do passado
Cantar a dona Amália e de a vida
Ter cheiro a café e pão torrado.

Gritava: “Zé Tó, Quim, Fatinha, Nelo! -
Cuidado, que o mar está de mau humor!”
(Era em Mira, num tempo novo e belo
E a Mãe era a praia do amor.)

Soube, junto a si, dessa mudança
Consubstancial ao crescimento.
Isto é: que o tempo passa, o tempo avança
E deixa para trás cada momento.

Queria, ó mãezinha, que cantasse
A Amália que cantava noutra altura:
Que a sua viva voz nos transportasse
Ao passageiro tempo da Doçura!

Ribeira de Pena, 05 de Maio de 2019/
Coimbra. 05 de Maio de 2024. 

Joaquim Jorge Carvalho

[Este poema foi data de 2019 e foi actualizado hoje mesmo, 5 anos mais tarde. Na foto, vê-se a minha Mãe na Serra da Estrela, brincando com um floco de neve. Ali leio uma metáfora, mais ou menos instintiva, de a neve ser o Tempo escorrendo-lhe/escorrendo-nos por entre os dedos.]

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Apresentação de PASSADO COMIGO EM CABECEIRAS DE BASTO (24-11-2023)




 Com apresentação do meu Colega e Amigo Guilherme Galvão, foi lançado, a 24 de Novembro de 2023, no Espaço Ilídio dos Santos (Mosteiro de Refojos), em Cabeceiras de Basto, o meu romance PASSADO COMIGO: HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO CASAL FERRÃO, com a chancela da Caleidoscópio / Oro. Esta publicação teve o apoio da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto.

O livro está venda nas melhores livrarias e fala de um tempo-espaço compreendido entre 1968 e 1977. Por exemplo, no dia da morte do avô, um miúdo de cinco anos vê o seu pai chorando como se fosse ele próprio um miúdo da idade do filho; por esse tempo, mais tarde, conhece um jogador da Académica de Coimbra com medo da Pide e de ir para a guerra; na escola, ama e teme igualmente a professora primária, que bate nos alunos mas também os ilumina de leituras e de conhecimentos; entretanto, tem e perde um cão, nunca mais visto senão em foto a preto & branco tirada contra a luz na Praia de Mira; acontece-lhe também cruzar-se com a Liberdade, em 1974, na pessoa do herói Salgueiro Maia, e chama daí em diante fascistas aos árbitros que prejudicam o seu clube; sonha com glória nos amores e no futebol, até perceber que é tudo muito provisório; depois, espanta-se e assusta-se com a ideia da morte rondando a rua e o bairro; etc.

Aí por 2019, este miúdo apareceu a Joaquim Jorge Carvalho e pediu-lhe que o ajudasse a recuperar o Bairro e o Tempo onde ficara certa infância e certa juventude iniciática.
O Autor tentou corresponder ao pedido.
Este romance é, na verdade, um rio correndo para a nascente.
O miúdo são todos os que não se esqueceram de ter sido (e de teimosamente serem ainda) miúdos com saudades de certa pureza não bem perdida. Literatura, portanto, em forma de nós.

O apresentador da obra, Professor Guilherme Galvão, enviou-me, a meu pedido, uma síntese da sua apresentação. Ei-la.


Passado Comigo: Histórias Maravilhosas do Casal Ferrão é um romance cujo tempo narrativo cobre nove anos (1968-1977), num bairro semiurbano, em transformação, no contexto da época, enquadrado pelas contingências da época: guerras, modas, tecnologias… As personagens são miúdos que vão crescendo em contexto familiar e vicinal e à medida que crescem transformam-se, como o próprio Bairro. 
Jota, um rapazinho de sete anos, é a personagem central e também o narrador. As suas aventuras com os amigos dão-nos a conhecer o ambiente do Bairro com as inter-relações sociais, as profissões, as formas e as ocasiões de convívio, os problemas e as perspetivas, os anseios, mas também a dinâmica solidária dos habitantes adultos, uma galeria de personagens emblemáticas, umas vezes tutelares, outras cómicas.
O livro está dividido em capítulos, constituindo cada um uma história que entrelaça com as outras, formando um corpo coeso, que constitui uma obra completa. É um romance de identidades e conhecimentos profundos do mundo coevo aos acontecimentos narrativos, relevando variados temas, motivos e recursos, que narra recordações de um tempo, num relato contra o apagar do tempo.
O autor historiografa os acontecimentos da época abrangida pelo romance, pondo em relevo a pedagogia social, nas regras dos jogos, na descrição de doenças, de cerimónias, de emoções, de medos, de viagens. Valoriza-se a família, como primeira instituição, mas também a escola, não só como elevador social, mas como responsável por reforçar a cultura, forjar amizades, descobrir alimento para o espírito, encontrar novos desafios, novos horizontes e novas esperanças.
Personagens infantis e adultas são heróis do dia-a-dia, vivendo num Bairro com uma ética e moral próprias, onde o aprendizado social é importante e em que a justiça de casa, da escola ou da rua é aplicada com frequência, à luz dos usos e costumes da época.
O autor utiliza um estilo fluído e uma escrita clara e simples. Há uma linguagem viva, cuja autenticidade advém de quem a usa e das situações criadas. Rapidamente se passa do nível informal ou corrente para a linguagem literária, com os variados recursos e técnicas estilísticas, para descrever ou pintar com palavras quadros realistas, mostrar estados de alma ou esclarecer.
O cómico está presente em vários episódios, facilitando o apego ao que se lê. Em contraponto os problemas sérios, sociais, vão sendo apresentados dentro das vivências familiares de vizinhança, consoante o devir diário. Referi-los já é uma denúncia, mas alguns são escalpelizados e criticados pelas personagens ou pelo narrador.
As interpelações ao leitor-narratário são muito frequentes, tornando-o cúmplice e intimo das expetativas do romance, enternecendo-o.
Em Passado Comigo, o Bairro é uma espécie de herói coletivo, ele próprio em mudança, em crescimento, pressionado pela população, que nele investe todas as perspetivas de futuro e de sonho. Adivinha-se uma envolvência global, enquadrada por caraterísticas morais, éticas, sentimentais, coevas ao período temporal abrangido. Estas caraterísticas prendem o leitor. Os mais velhos porque recordam e revêem-se nas vivências e nas emoções, douram as nossas memórias. Os mais jovens aprendem ou confirmam o que ouviram. Recomenda-se a leitura deste livro por ser um retrato bastante completo de uma época, nos aspetos históricos, etnográficos, sociológicos, culturais (incluindo as músicas e as modas) económicos e políticos, pondo em evidência as pessoas. É um livro de leitura agradável, divertida, cheia de ensinamentos e informações, nos quais toda a família se revê. É o elogio da aprendizagem em grupo, num tempo em que a brincadeira de rua com amigos, parceiros e até adversários se perdeu espaço.
Passado Comigo provoca emoções, faz-nos sonhar, remete-nos para momentos de felicidade. Afinal esta é uma das grandes pretensões do Ser Humano, e para a qual este livro contribui.

Cabeceiras de Basto., 29-11-2023.

Guilherme Galvão


APRESENTAÇÃO DO LIVRO PASSADO COMIGO EM RIBEIRA DE PENA, A 17-11-2023


Com apresentação do meu Colega e Amigo Paulo Pinto, foi lançado, a 17 de Novembro de 2023, no Museu da Escola, em Ribeira de Pena, o meu romance PASSADO COMIGO: HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO CASAL FERRÃO, com a chancela da Caleidoscópio / Oro. A publicação teve o apoio da Câmara Municipal de Ribeira de Pena- O livro está venda nas melhores livrarias e fala de um tempo-espaço compreendido entre 1968 e 1977. Por exemplo, no dia da morte do avô, um miúdo de cinco anos vê o seu pai chorando como se fosse ele próprio um miúdo da idade do filho; por esse tempo, mais tarde, conhece um jogador da Académica de Coimbra com medo da Pide e de ir para a guerra; na escola, ama e teme igualmente a professora primária, que bate nos alunos mas também os ilumina de leituras e de conhecimentos; entretanto, tem e perde um cão, nunca mais visto senão em foto a preto & branco tirada contra a luz na Praia de Mira; acontece-lhe também cruzar-se com a Liberdade, em 1974, na pessoa do herói Salgueiro Maia, e chama daí em diante fascistas aos árbitros que prejudicam o seu clube; sonha com glória nos amores e no futebol, até perceber que é tudo muito provisório; depois, espanta-se e assusta-se com a ideia da morte rondando a rua e o bairro; etc.
Aí por 2019, este miúdo apareceu a Joaquim Jorge Carvalho e pediu-lhe que o ajudasse a recuperar o Bairro e o Tempo onde ficara certa infância e certa juventude iniciática.
O Autor tentou corresponder ao pedido.
Este romance é, na verdade, um rio correndo para a nascente.
O miúdo são todos os que não se esqueceram de ter sido (e de teimosamente serem ainda) miúdos com saudades de certa pureza não bem perdida. Literatura, portanto, em forma de nós.

O apresentador da obra, Professor Paulo Pinto, enviou-me, a meu pedido, uma síntese da sua apresentação. Ei-la.

Escrever um livro é das coisas mais sublimes que há, uma das que todos deveríamos fazer a par com plantar uma árvore e ter um filho, disse o poeta cubano José Martí. Sinto-me honrado pelo convite do meu colega e amigo Joaquim Jorge Carvalho (JJC) para apresentar esta sua obra.
Passado Comigo é a cara do seu autor. Está lá praticamente tudo aquilo que são os seus amores e as suas inclinações: o futebol e os seus clubes do coração (o Sporting, o União de Coimbra…); os livros e a literatura, sobretudo a dos clássicos; o teatro; a poesia; o ensino; o mar; a amizade; a família como porto de abrigo; o fascínio pelo sexo feminino; a paixão pela liberdade e aversão às prepotências e injustiças; a admiração pela gente do povo resiliente e abnegada; os seus lugares de eleição e de coração: a Madeira, as terras de Basto, os areais entre Mira e a Figueira, e acima de tudo o seu berço e morada, a sua amada Coimbra.
É o retrato de uma infância e adolescência em que o sentido comunitário e de pertença é muito forte. No Casal Ferrão todos têm o seu lugar e sente-se a solidariedade e a proximidade entre gerações. É um espaço-tempo recordado com saudade, apesar da modéstia da vida material e da ditadura que ainda imperava até que o 25 de Abril irrompe trazendo consigo um infinito horizonte de possibilidades e de sonhos a cumprir. O livro tem um cunho genericamente autobiográfico que é assumido no posfácio, ainda que mitigado por algumas liberdades literárias a que o autor chama «verdade criativa».
Júlio Dinis, que o autor tanto admira, rever-se-ia nesta obra: na sensibilidade para com as coisas mais singelas e genuínas, no olhar que é mais empático do que analítico, na prosa despretensiosa que a todos nos convida a identificar-nos com o narrador e as suas aventuras e desventuras. O autor escreve com uma correção e uma elegância irrepreensíveis, mas prescinde de impressionar pela eloquência, pelos recursos de estilo ou pelo arrojo literário, apesar de nisso tudo ele ser mestre e artista como o tem provado em tantas obras já publicadas, da poesia ao romance, dos contos ao texto dramático. Com a humildade que o caracteriza, qualidade tão dinisiana também, JJC resiste a enfeitar as peripécias do seu passado de modo a engrandecer o papel ou os feitos do protagonista: trata-se de um rapaz comum entre gente comum, um rapaz com alguns talentos e bastantes sonhos, mas ainda assim apenas um rapaz entre os demais.
Os capítulos que se sucedem ao longo da obra são como pequenos contos que vão balizando o crescimento do protagonista e dos seus próximos. Divertimo-nos umas vezes, comovemo-nos outras, com os avanços e descobertas desse menino que se vai fazendo homem. E embora a narrativa se situe num tempo já recuado, entre os anos finais da ditadura e o pós-revolução dos cravos,
Passado Comigo – histórias maravilhosas do Casal Ferrão é um livro que apela e é acessível a leitores de todas as idades e com os mais variados perfis.
Cada leitor encontrará as suas passagens favoritas. Eu reparto as minhas preferências por diversos capítulos: por exemplo, aquele em que o «Jota» – o protagonista – confessa o furto de um exemplar de
As Pupilas do Senhor Reitor e expõe as consequências desse ato na sua vida posterior; ou aquele em que o nosso herói se depara com a cruel encruzilhada da juventude, optando por um sonho realizável e duradouro (as letras) em detrimento de outro que se revela inatingível (uma carreira futebolística), e em que uma sucessão de perdas anuncia o fim daquele mundo em que vivera. Ou ainda a deliciosa passagem, incluída no capítulo 43, em que o autor descreve a sua empolgante descoberta do teatro como metáfora da vida:
«
Desde o início, fui assaltado por um sentimento de absoluta felicidade, de deslumbramento e de gratidão. Vi-me disponível para a aceitação (na verdade, tácita) da ilusão do mundo e da vida em palco: sabia bem que tudo o que nos era dado ver - cenário, personagens, conflitos, diálogos - resultava de artifícios, de representação, mas nem por isso me parecia que a história fosse menos verdadeira. Não digo só verosímil, atenção, digo verdadeira. E havia aquele milagre extraordinário de, ao contrário do que sucedia com os filmes e as séries de televisão, tudo se passar ali, na nossa presença, na vizinhança das nossas respirações, dos nossos risos, das nossas lágrimas, do nosso espanto, do nosso medo, do nosso testemunho cúmplice.» (pág. 142)
Neste livro simultaneamente simples e belo, com o dom de encantar gerações presentes e futuras, JJC revela-se na sua autenticidade, trazendo-nos a candura dos seus verdes anos, nas suas paixões e nas suas fantasias, naquela camada juvenil que não desaparece mas se torna parte de cada um de nós. Para mim foi um privilégio ter participado no lançamento desta obra e ter podido partilhar com tantas pessoas estas breves reflexões. Desfrutemos!

                                                                                      Paulo Pinto


LANÇAMENTO DE PASSADO COMIGO EM COIMBRA (04-11-2023)

Com apresentação do enorme escritor (e Amigo) Daniel Abrunheiro, foi lançado, a 04 de Novembro de 2023, no Café Santa Cruz, o meu romance PASSADO COMIGO: HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO CASAL FERRÃO, com a chancela da Caleidoscópio / Oro. A sessão ficou ainda marcada por um extraordinário momento musical, a cargo do meu Amigo Carlos Massas.  A publicação teve o apoio à edição da Câmara Municipal de Coimbra (sob a forma de uma amável parceria com a editora).

O livro está à venda nas melhores livrarias e fala de um tempo-espaço compreendido entre 1968 e 1977. Por exemplo, no dia da morte do avô, um miúdo de cinco anos vê o seu pai chorando como se fosse ele próprio um miúdo da idade do filho; por esse tempo, mais tarde, conhece um jogador da Académica de Coimbra com medo da Pide e de ir para a guerra; na escola, ama e teme igualmente a professora primária, que bate nos alunos mas também os ilumina de leituras e de conhecimentos; entretanto, tem e perde um cão, nunca mais visto senão em foto a preto & branco tirada contra a luz na Praia de Mira; acontece-lhe também cruzar-se com a Liberdade, em 1974, na pessoa do herói Salgueiro Maia, e chama daí em diante fascistas aos árbitros que prejudicam o seu clube; sonha com glória nos amores e no futebol, até perceber que é tudo muito provisório; depois, espanta-se e assusta-se com a ideia da morte rondando a rua e o bairro; etc.
Aí por 2019, este miúdo apareceu a Joaquim Jorge Carvalho e pediu-lhe que o ajudasse a recuperar o Bairro e o Tempo onde ficara certa infância e certa juventude iniciática.
O Autor tentou corresponder ao pedido.
Este romance é, na verdade, um rio correndo para a nascente.
O miúdo são todos os que não se esqueceram de ter sido (e de teimosamente serem ainda) miúdos com saudades de certa pureza não bem perdida. Literatura, portanto, em forma de nós.

Coimbra, 27-12-2023.
Joaquim Jorge Carvalho





[Espero publicar, em breve, um resumo da magnífica apresentação feita pelo Daniel Abrunheiro.]



terça-feira, 5 de setembro de 2023

Clube Esperança

 




Vou saindo já do meu Verão
E custa-me que o Fim seja verdade –
Adeus, Madeira do meu coração!

(Mas no Domingo vou a Alvalade
Ver o Sporting-Famalicão:
Talvez a graça da felicidade
Regresse sob a forma do Leão!)

Machico, 25-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Fotos JJC & Família]




Restinho vital

 



Só um resto de água (um só restinho)
Para o resto da sede caminhante –
E um resto de dia é o bastante
Para o delicado resto do caminho.

Machico, 24-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho

[Foto MPC]

Poesia (revisões)


Deus-Poeta atira seixos
Ao mar.

As ondas e o senhor Tempo
Esculpem os seixos
Perfuram-lhe as entranhas
Escavam secretas grutas acústicas.

É da concavidade mágica das conchas
Que ressoa a voz primeira
Da criação –
Versos de Deus.

Machico, 21-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto JJC]




Da amável burguesia




O burguês vive as férias do Verão
Contente dessa sazonal folia
E finge acreditar na ilusão
De nunca se acabar tanta alegria.

Passou já no mercado, com amigos
E de lá trouxe mil amáveis cheiros
De maçãs, morangos, uvas, figos
Melões (portossantenses e estrangeiros).

Sorri por ser possível conservar
Aromas desses frutos já ausentes
Apenas por depois os relembrar –

E o mesmo sucede mansamente
Com quem ressuscita ao recordar
Antigos amores neoviventes.

Machico, 17-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto MPC)

 

 

 


Entardecer não eterno

 



Em viagem para o Sul
A ave crepuscular
Pousa leve sobe o mar
Leve repousa em azul.

Frágil e leve flutua
Vizinha de peixes lentos;
Bebe o ar de leves ventos
E voa para lá da lua.

A ave só existiu
Até deixar de se ver:
Leve chegou e partiu –

Quem a pudesse escrever
E dizer quanto sentiu
O perdido entardecer!

Machico, 11-08-2023.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto JJC]

sábado, 2 de setembro de 2023

Maravilha made in Nós

 


A minha Filha faz anos. Eu e a MP sentimos um profundo orgulho nesta maravilha made in Nós. Admiramos a sua educação, a sua inteligência, a sua cultura, o seu sentido de ética (na amizade e no trabalho), a sua fidelidade e o seu amor à Família. Ainda por cima, é do Sporting!

Custa-nos que, fisicamente, não esteja sempre pertinho de nós e dificilmente aguentamos um dia sem um contacto seu. Ser Pai ou Mãe é um ofício para sempre, já se sabe, que implica permanentes cuidados, incessantes aflições, recorrentes angústias; mas o retorno é saber que a nossa “menina” existe e dá sentido à vida de todos nós – e que a sua Felicidade é parte essencial da nossa Felicidade.

Parabéns, Vanovska! We love you!

Coimbra, 02 de Setembro de 2023. 
Joaquim Jorge Carvalho (& MP)

terça-feira, 25 de abril de 2023

Houve uma coisa simplesmente bela (25 de Abril ao ritmo de Cesário Verde)





Naquela madrugada portuguesa
Houve uma coisa cheia de verdade
E que, sem inúteis ares de grandeza,
Em todo o caso trouxe a Liberdade.

Foi quando o firme Maia, mais que humano
Fez a vontade a um inteiro Povo
Apeando do poder Marcelo Caetano
E com ele o velho Estado Novo.

Depois, prosseguiu-se a construção
Do Dia, em contínuo amanhecer -
E houve alegrias, desvios, desilusão …

Mas ficou-nos essa imagem a nascer
Do Maia com um cravo em sua mão
À espera do Futuro por fazer!

Coimbra, 25-04-2023. 
Joaquim Jorge Carvalho

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Once upon a time

 


A memória: um rio correndo para a nascente.


Machico, 22 de Agosto de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho

[A foto evoca, para além da minha pessoa, as de meus irmãos Z.T. e M.F., aí por 1968 ou 1969. O nosso irmão
E. ainda não era nascido.]