Eu amo o Verão, mas sou do Outono. A minha vida é feita sobretudo do tempo que ainda falta para o Verão. É uma vida geralmente pobre de mar. Contudo, teimosa como um rio, caminha sempre, desde sempre, para a certa foz a haver. O passado, o presente e o futuro são muito mar.
quinta-feira, 19 de março de 2020
Quarentena
Da minha janela vê-se a interrupção do mundo. Sou vizinho involuntário do deserto.
Lá fora há algum Sol, mas cá em casa sente-se muito o frio.
Temos pouca comida armazenada, quase nada (haverá quem tenha menos). Amanhã, numa fugida, devo ir às compras.
Ainda agora, li notícias de açambarcamentos e de prateleiras vazias. A condição humana, às vezes, não merecia que se lhe chamasse humana.
O País fala de esperança para evitar falar de medo.
E eu escrevo para quê, pá?
Neste caso, parece-me, para evitar a solidão.
Coimbra, 19-03-2020.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.cmjotnal.pt.]
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