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Portugal não foi sempre isto. Nem o Partido Socialista foi sempre isto.
O PS de Mário Soares, de Álvaro Guerra, de Manuel Alegre, de Sottomayor Cardia, de Almeida Santos, de Salgado Zenha – era outra loiça. Havia idealismo, generosidade, cerviz.
A nossa triste contemporaneidade trouxe o que está à vista. As causas deram lugar a tácticas e interesses. A vida deu lugar à vidinha. É assim nos maiores partidos portugueses. Mas dói-me isto mais no PS por me ter habituado a, no passado, identificar o punho ou a rosa com a própria ideia de digna liberdade.
Muitos dos actuais políticos portugueses chocaram nos aviários chamados Jotas: JS, JSD. JC, JCP. Dali saem formatados, boys & girls já muito velhos, correndo ao cheiro de cargos e sinecuras: lugares nos parlamentos, nas secretarias importantes, nos bancos, nos governos, nas empresas públicas e – seja lá o que isso for – nas empresas privadas.
A moral é uma palavra que, hoje, não significa nada. Pina Moura, ex-comunista, quando há uns anos ainda tinha um pé na Iberdrola (espanhola) e outro na Assembleia da República (portuguesa), ao ser questionado sobre a questão do conflito de interesses, respondeu que a sua ética era a “republicana”. E concretizou: sendo a sua situação “legal”, não havia problemas. Talvez seja assim, de um ponto de vista puramente jurídico, cínico. Mas a ética (republicana, monárquica, rosa, laranja, azul, vermelha) é outra coisa. Deveria ser outra coisa.
Também Mariano Gago, o ministro da Ciência e do Ensino Superior, disse um dia na televisão, sem se rir, a propósito da – digamos assim – licenciatura do primeiro-ministro, que se tratara de “um percurso académico exemplar”. Foi, pois, mais longe que Pina Moura; não apenas as vicissitudes deste curso, cheio de equivalências e de pormenores singulares, foram legais, no entender de Gago, como ascendem à categoria de “exemplo” para a juventude portuguesa.
Acreditei então, como agora, que Sócrates não cometeu qualquer crime nessa sua saga na falecida Independente. Mas recusei dá-lo como paradigma à minha filha, a qual fez os normais cinco anos de universidade para se licenciar em Direito. Chamai-me antiquado.
Entretanto, vou estando farto das notícias que, todos os dias, afligem o país. De negociatas, de arranjos subentendidos, de jogos, de favores, de compadrios. Vou estando farto, aliás, deste país que também sou eu. E não se pode emigrar para fora de nós.
Creio que boa parte do problema de Portugal está em que, por falta de comparência das grandes figuras, a classe política se encheu de mediania e de mediocridade. António Vitorino e Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, preferem o conforto do comentário à condução dos respectivos partidos (e do governo); essa espécie de desistência abre caminho a uma gente normalmente inculta, sem ideais, sem causas e muito pobre de gramática.
Não acredito que Mário Soares ou Pinto Balsemão durmam descansados.
Ribeira de Pena, 18 de Fevereiro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
Caro Amigo,
ResponderEliminarEstou plenamente de acordo contigo! Nos tempos actuais o que conta é o dinheiro. E o mais importante é o parecer. É revoltante assistir a políticos a taparem o Sol com uma peneira, a negarem evidências...
Um abraço,
TB
Olá, Amigo! Obrigado por visitares este Mar.
ResponderEliminarEstamos de acordo, sim.
E, já agora, a tua expressão "a taparem o Sol" tem, neste caso, uma particular força!
Abraço.
JJC