Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sábado, 27 de setembro de 2014

Coimbra


Aprendi que somos de uma terra muito mais que temos uma terra. Eu sou de Coimbra. 
O destino quis pôr à prova a minha fidelidade, a verdade que havia na minha devoção primeira: levou-me aos poucos para cada vez mais longe, de escola em escola. O meu amor, como um vinho doce, veio a tornar-se ainda mais apurado, mais especial. 
De modo que, a cada separação (uma semana, quinze dias, três semanas), tendo a sofrer mais e mais. E a desejar, com maior urgência, quase desespero, viajar para Coimbra. 
Na verdade, quando viajo para Coimbra, já não vou a Coimbra. Regresso. 
Até já, meu amor de onde sou.

Ribeira de Pena, 27 de Setembro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.best.uc.pt.]

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Menina


A minha filha faz hoje trinta anos. À MP e a mim custa-nos a aceitar que o tempo passe tão depressa.
A V entrou pela nossa vida como um intruso frágil e, à velocidade da luz, tornou-se personagem principal na história da nossa existência.
Fomos abençoados com uma cria linda e inteligente. Não tinha de ser assim para que a amássemos, mas foi assim. O seu percurso escolar encheu-nos de baba mal disfarçada. A sua curiosidade alimentou-nos o maravilhoso espanto de existir. O seu sentido de humor tornou mais colorido o mundo que juntos percorremos.
É já uma mulher, naturalmente. O relógio avança. Mas ainda é a nossa menina. A sério: ao falar dela, ainda dizemos "a menina" (em pontual alternativa, " a miúda").
Assim que a menina nasceu, passei a saber mesmo do que se falava quando se falava de amor incondicional. No fundo, é estar disponível para a proteger até ao limite. Isso compreende, na minha cabeça, a eventualidade de dar a vida por ela. Não tenho a mínima dúvida sobre o conceito: o amor pelos filhos é, para pais verdadeiros, um verdadeiro curso sobre a noção de amor incondicional. Quando ela, há duas semanas, regressou da Madeira, quatro dias antes de nós, eu rezei mentalmente: "Meu Deus, se algum dos dois voos tiver de cair, que não seja o da minha filha." E eu, acreditai, sentia o que pensava (a MP também).
A minha filha tem trinta anos, não sei se já vo-lo disse.
Tenho muito orgulho na minha menina.

Ribeira de Pena, 02 de Setembro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho